Sumi da tela em branco, dei corda
no relógio, me despertei mais cedo e juntei todas as coisas na cabeça. Dormia
com todos os pensamentos acordados e me levantava com todas as ideias apostas
para mais um dia. A agitação quando chega não dá espaço para quietude
necessária para criação de um texto sobre coisa boa. É engraçado, quando
estamos tristes é preciso lágrimas e da ferida aberta para que saia um bom
desabafo. Mas quando a fase é boa, só precisamos de uma boa música, a paz que
vem de dentro e a organização dos pensamentos.
Os últimos tempos trouxeram bons
ventos e frutos. Nem precisou chegar a
primavera para o coração se alegrar, a alma se dispor e tudo entrar em seu
lugar. Foram muitos os momentos enquanto aqui eu nada registrava. Foi muita
informação para o período de anonimato.
Tudo começou a mudar nas férias,
parei com as aulas de autoescola, depois da primeira reprovação na direção, e resolvi
voltar para casa, passar um mês inteiro sem nada o que fazer, sem reuniões
marcadas, sem tarefas pendentes, com o celular desligado, sem agenda e sem
preocupar em fazer a minha própria comida. Fiquei longe da cidade grande, da dieta,
da rotina doméstica, da oferta de empregos e das minhas próprias regras. Tudo
isso não me pareceu uma boa ideia no primeiro momento.
Muitas surpresas boas apareceram
e transformaram esses dias de férias em recordações inesquecíveis. Aos poucos
fui percebendo a necessidade que temos em alguns momentos da vida de nos
mantermos perto de quem realmente gostamos. Por dias, desfrutei de abraços
demorados de reencontros, risadas altas e sorrisos sinceros. Em dias de semana,
cozinhei, bebi vinho, fui ao clube, sai para jantar, fui à serra, comi gordices
e ainda caminhei em raras manhãs.
Lá de cima pude ver a cidade e enxergar nela
um pouco mais de mim. Percebi que voltar para casa nem sempre é perder a
identidade e sim, reforçar nossa essência. Com o passar do tempo, fui gostando
de tudo aquilo ali. Há muito tempo não sabia o que era ter tempo para mim. Ter
vontade e poder sair para tomar sorvete no meio da tarde ou caminhar sem ter hora
para voltar. Nada disso é tarefa fácil para quem vive em cidade grande. O
descompasso entre o tempo que a gente tem e a agenda de compromissos não
permite muitas vontades e caprichos.
Não ter hora para acordar, tomar
sol debaixo da jabuticabeira, brincar com os cachorros, comer delícias da
padaria e não saber qual programa fazer vão estar guardadas como lembranças
sinônimas de calmaria e paz de espírito.
Para meu Deus tive também mais tempo, e foi assim que encontrei mais
respostas e menos inquietude. Pude voltar mais serena,equilibrada e
feliz. Em um primeiro momento, chorei com saudade de casa mas só assim reconheci a importância de voltar de onde viemos e assim ter a a certeza para
onde vamos.